Projeto inovador prevê implantação de trens por levitação magnética com alta capacidade a um custo três vezes menor que os metrôs convencionais.
Trens flutuantes viajando a cerca de 450 km/h entre o Rio de Janeiro e São Paulo a um custo de implantação equivalente a um terço do investimento em uma linha convencional de metrô. Não, essa não é a sinopse de um novo filme de ficção científica, estamos falando de um projeto brasileiro que pode revolucionar o sistema de transportes no país.
Trata-se do Maglev Cobra, um trem movido à levitação magnética que está em fase inicial de testes na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além do baixo custo para implantação, sua manutenção pode ser até 50% mais barata e o resultado final é um veículo de transporte não poluente.
O sistema de levitação magnética não é exatamente uma novidade. Desde a década de 60 em alguns congressos já se discutia a sua utilização prática no sistema de transportes. No entanto só no final do século passado foi possível colocar em prática os primeiros testes com a tecnologia.
Desde janeiro de 2004, uma linha com trinta quilômetros de extensão localizada na cidade chinesa de Shanghai está em operação comercial. O Magelv de Xangai utiliza tecnologia eletromagnética alemã da Transrapid, pois está desenvolvido para atingir 450 km/h. levitando com supercondutores resfriados à temperatura do nitrogênio em estado líquido (-198oC) em uma via composta de irmãs permanentes.
Nesse ponto o diferencial do projeto brasileiro é significativo. Quem explica é Engenheiro e doutor em Engenharia de Transportes Eduardo Gonçalves David. Ele é um dos inventores e titulares da patente do Maglev Cobra junto ao INPI. “Enquanto o Transrapid consome 1,7 kW/tonelada levitada o Maglev-Cobra não consome energia alguma. Se o criostato (tanque de nitrogênio) fosse um isolante perfeito o Maglev ficaria levitando eternamente”, explica.
Segundo ele, a questão chave para decidir quanto à melhor tecnologia depende do tipo de operação que se deseja. “Para alta velocidade a levitação eletromagnética revela-se melhor. Operando a 450 km/h na eletromagnética o consumo de energia para levitar equivale a 5% do consumo total, já operando na baixa velocidade o consumo de energia para levitar poderia chegar a 50%, o que se mostra vantajoso para o sistema baseado em supercondutores resfriados à temperatura do nitrogênio em estado líquido”, afirma.
Como funciona a levitação magnética
Diversas variáveis influenciam na composição da levitação magnética e, por isso mesmo, existem diversos maneiras práticas de aplicar este conceito. A versão proposta para o trem brasileiro é a Levitação Magnética Supercondutora.
A lógica do funcionamento é bem simples. Uma placa de cerâmica supercondutora ao ser resfriada com nitrogênio líquido produz o efeito de levitação sobre um imã de neodímio - um imã feito a partir de uma composição dos elementos químicos Neodímio (Nd), Ferro (Fe) e Boro (B).
Menor custo e sem emissão de poluentes
Dois fatores importantes podem colaborar para que esta nova tecnologia se torne popular num futuro próximo. O primeiro deles é o baixo custo de implantação e manutenção, se comparados aos serviços tradicionais em execução na atualidade.
“Em transporte a decisão deve estar focada no bem estar do cliente: o passageiro. E o que o passageiro do transporte público quer prioritariamente? Eu acredito que: mobilidade, rapidez, conforto, segurança e baixo custo - nesta ordem”, defende Eduardo.
Pensando nisso, foi elaborado um estudo de caso para o Rio de Janeiro, no antigo Corredor T5, do Terminal Alvorada da Barra da Tijuca até ao bairro da Penha. Atualmente, na hora do “rush”, se gasta 1 hora e meia de viagem, que será reduzida para 45 minutos com o BRT expresso e apenas 20 minutos com o Maglev em via elevada.
“O custo médio operacional do sistema integrado Maglev+BRT é 50% inferior ao do custo operacional apenas do BRT. Portanto, sobra uma grande margem para amortização do investimento complementar ao BRT, com grande benefício público decorrente do maior conforto, rapidez e segurança”, conclui.
Outro fator positivo em prol do novo sistema é a preservação ambiental. O Maglev Cobra apresenta um custo energético por passageiro-quilômetro equivalente a apenas 13% do consumo médio do ônibus urbano, gerando uma economia de 87% em um item que representa cerca de 30% do custo operacional.
Os Maglevs em outros países
Embora a proposta do Brasil seja uma das mais avançadas em termos tecnológicos, o país não é único que está com projetos em desenvolvimento nesse segmento. Além do Maglev de Shanghai, que está em funcionamento desde 2004, a Alemanha e a Coréia do Sul também estão de olho neste mercado.
O país europeu é um dos mais tradicionais no assunto, não pela implantação de linhas, mas pelas experiências efetivas com levitação magnética que realiza desde a década de 80. Já na Ásia, a Coreia do Sul prevê para 2013 a inauguração de uma linha de 16 km que deve se tornar um modelo.
“A levitação eletromagnética é uma tecnologia madura e com futuro, até porque o sistema eletrônico de controle que é a parte tecnicamente mais delicada está ficando cada dia mais potente e barato”, acrescenta Eduardo.
O engenheiro defende ainda a quebra de alguns paradigmas para que nova tecnologia possa definitivamente ser colocada em prática. “Quando há quebra de paradigmas tecnológicos dificilmente as empresas do antigo setor assumem a liderança, porém lutam enquanto podem. Um retrospecto do passado demonstra bem isto: não foi a Remington nem a Olivetti que popularizaram os computadores domésticos, embora fossem líderes das maquinas datilográficas”, exemplifica.
O futuro da levitação magnética
Em filmes como Minority Report - A Nova Lei, a tecnologia de levitação magnética é empregada de forma individual, como um elemento de substituição dos automóveis de passageiros comuns. Será que um dia um aspecto ficcional como esse pode se tornar realidade?
O engenheiro Eduardo David acredita que isso não é impossível. “Eu acredito que este dia não vai demorar muito não, embora o transporte em sistema guiado seja a opção mais fácil de implantado. A eletrônica está ficando cada dia mais acessível e uma nova geração de jovens brilhantes chega continuamente ao mercado”, opina. “Quem sabe algum dos leitores não se interesse em desenvolver isso? É um bom desafio criativo e com grande apelo ambiental”, finaliza Eduardo.
Enquanto esse dia não chega, vale ficar de olho nas datas previstas para implantação e execução do Maglev Cobra. Se tudo correr bem até 2014 serão implantados 4,5km de linha operacional no campus da UFRJ, na Ilha do Fundão. Os supercondutores, o trem e os motores lineares serão fabricados no Brasil.
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