terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conheça o dia a dia dos profissionais de segurança da informação.

Responsabilidade vai muito além de configurar e manter sistemas. Atuação passa por inteligência, educação e desenvolvimento de produtos.

É responsabilidade de um profissional de segurança da informação a manutenção de sistemas, a elaboração de políticas, planos e instalação de produtos e equipamentos que protegem os bens virtuais e os dados de uma empresa. Mas há profissionais que atuam na área e que trabalham com inteligência e educação em segurança, ou ainda com desenvolvimento de produtos, análise de códigos maliciosos e outras áreas. A coluna Segurança para o PC conversou com três profissionais para saber como é o dia a dia de trabalho na área.

Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados, etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras.

Fabio Assolini (analista de vírus), recebe arquivos para determinar se são vírus brasileiros.

Para que um vírus seja detectado por um software de proteção, ele precisa ser analisado e reconhecido como um código malicioso. O trabalho de Fabio Assolini é exatamente esse. Trabalhando no Brasil para a equipe global de analistas da empresa russa Kaspersky Lab, ele precisa analisar ataques de origem nacional.

“A primeira ação a ser feita é verificar a origem da praga. Como meu trabalho é focado somente em pragas brasileiras, essa filtragem é importante”, explica Assolini. O analista precisa usar várias técnicas, algumas bem simples, como a análise do endereço em que o vírus está, até outras mais sofisticadas, como a identificação da estrutura e da linguagem de programação usada para o código malicioso.

Assolini gosta de ter conhecimento a respeito de cada ação de uma praga virtual, mas os programadores de vírus não facilitam esse trabalho. “Para dificultar esse trabalho de análise, alguns criadores de vírus usam alguns truques, como empacotadores para criptografar o código do vírus, antiemuladores e antivirtualizadores”, diz. Como a pesquisa da praga digital normalmente envolve a execução do vírus é preciso emular ou “virtualizar” o código. Assim ele fica enjaulado em um laboratório sem conexão com o mundo real. Os vírus tentam detectar esse ambiente, impedindo que a analista proceda sem complicações.

“Desmontar tudo isso é como decifrar uma charada e poder ver o que nem todos podem ver, desvendar algo que estava oculto, criptografado, e sentir-se realizado ao fazê-lo”, afirma Assolini.

O processo não leva muito tempo. Mesmo para as pragas mais complexas, Assolini investe apenas 20 minutos. Nas mais simples, cinco minutos são suficientes. O conhecimento obtido por fazer isso diariamente ajuda. “Entre os criadores de vírus brasileiros há um comportamento comum de reaproveitamento de código, o que torna algumas pragas muito parecidas entre si”, comenta.

O trabalho não se transforma apenas em atualizações para antivírus. Assolini também precisa participar de eventos – para se informar ou para palestrar – e atender a imprensa. Ele também precisa escrever artigos sobre o comportamento das ameaças locais.

“A parte interessante está no fato de ver, no final de um dia de trabalho, seu esforço se converter em proteção para os usuários finais. Não há tarefas entediantes, cada nova análise é uma surpresa, e a cada dia aparecem novos desafios nessa área. A gente sempre tem a percepção que não sabe tudo e que ainda tem muita coisa para aprender, isso espanta o tédio”, finaliza.

Anchises de Paula, pesquisador de inteligência em segurança, precisa criar relatórios e enviar informações de fraudes nacionais aos EUA.

A área de segurança evolui rapidamente. Suas várias ramificações se expandem e fica difícil encontrar alguém que possa fazer uma leitura do todo e, com isso, entender o que realmente está acontecendo. Esse é o trabalho de Anchises de Paula, pesquisador de inteligência em segurança na iDefense, uma empresa da Verisign.

“É um trabalho diferente do normal, pois nós temos que entender os vários aspectos de segurança em cada país: quais são as principais ameaças, motivações, grupos ativos e, do outro lado da moeda, como as autoridades e empresas reagem e combatem o crime cibernético”, explica Anchises.

Para realizar essa tarefa, o profissional precisa estar sempre atento às novidades da área. “A principal tarefa que eu preciso realizar é acompanhar as notícias e novidades da região, em termos de segurança e ameaças, selecionar os fatos mais importantes e reportar para os EUA, através de algumas ferramentas como, por exemplo, uma base de dados de notícias”. Essa informação também será usada para criar relatórios contendo análises de cenários e ameaças.

Outra parte do trabalho consiste em responder perguntas diretas enviadas por clientes da iDefense. Para isso, Anchises precisa saber quem realiza pesquisas em segurança no Brasil e como funcionam as fraudes que ocorrem no país. Para conseguir isso, a participação em eventos, para manter-se informado e conhecer pessoas, torna-se uma parte fundamental da rotina do profissional.

O que motiva esse trabalho é a busca pelo entendimento completo do complicado mundo da segurança. “A cada dia posso receber uma demanda por algum tipo de informação ou análise de um assunto totalmente novo e inesperado, logo há um componente muito forte de pesquisa e análise. Além disso, há a vantagem de estar acompanhando diariamente as principais novidades no setor de segurança da informação em todo o mundo”, afirma Anchises.

Anderson Ramos, diretor técnico de treinamentos, trabalha com criação de conteúdo educativo e treinamento. Sou una interface (ponte) entre os hackers e quem protege as redes, diz.

O que Anderson Ramos aprende não é apenas para si mesmo. Como diretor técnico de uma empresa focada em treinamentos, ele precisa “empacotar” seu conhecimento em cursos, livros e palestras. “Gasto boa parte do tempo analisando o que os grandes cérebros estão produzindo, separando o que é relevante para as empresas”, conta.

“Visito cerca de dez conferências por ano, em países variados, porque não dá mais pra pensar em segurança com foco apenas local”, afirma.

Questionado sobre algo que faz esporadicamente, ele responde: “dormir”. Ramos precisa dar aulas, palestras ou escrever o material que será repassado às equipes de segurança das empresas.

O especialista gosta do seu trabalho porque sente que aproxima dois lados aparentemente opostos do mundo da segurança da informação. “Quase tudo que há de genial em TI foi criado por hackers, no sentido original da palavra. Alguns consomem todo seu tempo procurando falhas, outros se focam na correção. Sem essa dicotomia não haveria Internet nem uma série de outras coisas. O que me motiva é levar conhecimento de um lado para o outro, contribuindo para aproximar esses opostos ao invés de afastá-los”, observa.

O grande desafio dessa área, segundo Ramos, está na educação dos desenvolvedores de software. “Alcançamos um nível de maturidade razoável em algumas áreas, como segurança em redes. Estamos muito distantes de conseguir o mesmo nas aplicações, principalmente na web”. Ele opina que falta uma sensibilização por falta dos gestores, que ainda não percebem a necessidade de dar atenção para essa área.

Em parte o problema existe porque é difícil medir os resultados de projetos que visam educar e treinar os profissionais. “Medir resultados de investimentos em educação no curto prazo é razoavelmente fácil: o cliente sempre lhe diz ao final se gostou ou não. Saber se aquele resultado é duradouro é mais difícil e não depende só de mim”, explica.

Apesar da dificuldade, Ramos sabe como tirar satisfação do seu trabalho. “Fico particularmente feliz ao ver um ex-aluno alcançando seus objetivos através do conhecimento, seja um estagiário ou o diretor de segurança de uma grande corporação. Não há métrica melhor do que o impacto concreto que você deixa por onde passa, por menor que ele seja”, diz.

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